sexta-feira, 29 de julho de 2016

 



A Luz no Evangelho de São João


Por Prof. Felipe Aquino12 de janeiro de 2012 Sem categoria


A criação da luz

Ao narrar a obra dos seis dias, o Gênesis trata de duas criações de luz, uma no primeiro, outra no quarto dia. Numa primeira leitura, fica-se perplexo diante dessa repetição e, às vezes, chega-se até a imaginar a existência de algum lapso da parte do escritor sagrado. Entretanto, São Tomás trata com sabedoria sobre o aparente equívoco dessa passagem da Escritura, e com base na opinião de Santo Agostinho, interpreta a primeira das luzes criadas como significação do universo angélico surgido da onipotente ação de Deus, na aurora de sua ação ad extra: “Portanto, a formação da natureza espiritual é significada na criação da luz, para que se entenda que se trata da luz espiritual. A formação, pois, da natureza espiritual está em ser iluminada para aderir ao Verbo de Deus”.1 A outra luz, constituída pelo sol, pela lua e pelas estrelas com a finalidade de iluminar a terra, foi adequadamente criada no quarto dia, pois “a luz mencionada no primeiro dia era espiritual, agora é feita a luz corporal”2.

O início do Evangelho de São João

Porém, não é a respeito dessas luzes que São João trata na introdução de seu Evangelho. Para nos mostrar a substância e beleza de uma outra luz, infinitamente superior, ele ultrapassa os estreitos limites do tempo e recua aos infinitos horizontes da eternidade. “Enquanto os demais Evangelistas começam pela Encarnação, São João, indo além da Concepção, da Natividade, da educação e do desenvolvimento de Jesus, fala-nos de sua eterna geração, dizendo: ‘No princípio era o Verbo'”3. Esse princípio diz respeito ao ab æterno das Pessoas da Santíssima Trindade e do próprio Deus.

São João, com plena segurança teológica, não tem receio de afirmar que “Tudo quanto foi feito, nEle era vida…” (Jo 1, 4) para a seguir fazer um elo entre essa “vida” com a “luz que brilha nas trevas” (Jo 1, 5) que essencialmente é o objeto de nossa atenção.

O Versículo 4 do Evangelho de São João

“Tudo quanto foi feito, nEle era vida”

Ainda segundo São Beda, ao afirmar São João que toda obra da Criação era vida no Verbo, antes de seu vir a ser, foi movido pela preocupação de evitar em seus leitores a idéia de mutabilidade da vontade divina, que constituiria um grave erro. Também Orígenes teve empenho em tornar explícito o versículo em questão, citando alguns dos múltiplos exemplos espalhados pelo universo criado: o sol, as sementes, a alma do artista etc., enquanto causas nas quais vivem os efeitos que produzem: “e assim examinemos os vários exemplos naturais, dos quais, como em asas de teoria física, podemos elevar-nos com os olhos da alma até os arcanos do Verbo e, na medida em que é permitido à inteligência humana conhecer como todas as coisas feitas pelo Verbo vivem e foram feitas nEle”4.

“E a vida era a luz dos homens”

A interrrelação entre vida e luz, essa reversibilidade recíproca na conceituação de São João faz crer em alguma revelação do próprio Divino Mestre ou quiçá, de Sua Santíssima Mãe recebida por ele em algum momento. É ela muito feliz e ao mesmo tempo feita em tom categórico apesar de ser suave em sua forma, nesta segunda parte do versículo 4: “e a vida era a luz dos homens”. Um bom número de comentaristas procura aprofundar seu significado, dentre eles se destaca, de maneira especial por sua clareza, Orígenes:

A vida é o mesmo que a luz. Ele é a luz dos homens, e assim Ele é a vida dos homens, dos quais é luz. E deste modo quando se diz vida, pode dizer-se o Salvador, vida, não de Si mesmo, mas de outros, dos quais é também luz. Essa vida existe no Verbo de Deus de uma maneira inseparável, e existe juntamente desde que foi feita por Ele.

Convém, pois, que a razão ou o verbo preexista na alma para purificá-la, a fim de que, uma vez limpa de seus pecados, apareça pura, e se introduza assim, e se engendre a vida naquele que se que fez susceptível do Verbo de Deus. Não se diz que o Verbo foi feito no princípio, porque não existia o princípio sem o Verbo de Deus; a vida dos homens, porém, não estava sempre no Verbo, mas essa vida dos homens foi feita, porque a vida é a luz dos homens: quando o homem não existia, também não existia a luz dos homens que depois eles haveriam de poder ver; e, portanto, diz: “O que foi feito no Verbo era vida”; e não “o que estava no Verbo era vida”. Há outra variante aceitável, a qual diz: “O que foi feito nEle é vida”. Se entendemos, pois, que a vida dos homens, que está no Verbo, é Aquele de quem São João diz: “Eu sou a vida” (Jo 14, 6), devemos confessar que não vive nenhum dos infiéis de Cristo, mas que estão mortos todos os que não vivem em Deus5.



O Verbo é a luz intelectual que ilumina a alma dos seres racionais

Evidentemente, São João não se refere nesta passagem, à vida humana natural, mas àquela que levou o Apóstolo a exclamar: “Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim” (Gal 2, 20). Ouçamos a esse propósito a opinião de Teófilo:

Tinha dito que “nEle estava a vida”, para que não se acredite que o Verbo estava separado dela. Agora declara que é a vida espiritual e a luz de todos os seres racionais. Por isto acrescenta: “E a vida era a luz dos homens”. Como dizendo: “Esta luz não é sensível, mas intelectual, e ilumina a própria alma”6.

Essa é a razão pela qual são iluminados os homens e não os seres animados ou inanimados inferiores, pois é necessária a existência da alma racional a fim de penetrar-se no universo da sabedoria.

Por outro lado, nessa afirmação de que “a vida era a luz dos homens” deve-se considerar a vida em sua forma mais nobre, que é a das criaturas espirituais, capazes de conhecimento natural e sobrenatural. Para elas, viver é conhecer, pela razão na ordem natural e pela fé na ordem sobrenatural: “Esta é a vida eterna, que te conheçam a ti, único Deus verdadeiro, e a teu enviado, Jesus Cristo” (Jo 17, 3).

Ao abraçarem o pecado, os homens se fecham à luz procedente do Verbo

Pelo anteriormente exposto, vemos o quanto é densa de significação essa aproximação que São João faz entre vida e luz. Por outro lado, podemos deduzir até que ponto o pólo oposto estaria colocado na morte e trevas, não no sentido de que se possa considerá-las como uma potência incriada e em luta contra Deus como desejariam os maniqueus, ou os gnósticos, por exemplo. Mas de fato inteiramente aplicáveis aos que se blindam em relação à luz, ou seja, à Palavra de Deus, e depois de se lançarem nas trevas, acabam por conferir a morte ao seu espírito.

Se a vida se torna tal só quando se reconhece chamada por Deus e só nesta compreensão – de ser “luz” – é vida, é necessário que tenha também a possibilidade de recusar tal compreensão e tornar-se “trevas”. Trevas em S. João não significa, como no gnosticismo, uma substância eterna e contrária a Deus; mas é um ato histórico, isto é, a revolta que perpassa toda a história do homem contra o apelo da palavra divina e o fechar-se do homem em si mesmo. Por isso a condição do homem fechado em si e que procura manter essa orgulhosa autossuficiência é caracterizada por João como matar a verdade e ser mentiroso (8, 30-47), buscar a glória (isto é, a luz aparente) dos homens em vez da glória (a verdadeira luz) de Deus (5,44; 7,18; 12,43)7.

Em contraste com as “trevas”, compreendemos ainda melhor a pulcritude da “luz”, como também o porquê da afirmação de Jesus: “O teu olho é a luz de teu corpo. Se o teu olho for simples, todo o teu corpo será luminoso” (Mt 6, 22). De fato, pode-se assegurar que se teu olho é simples, teu interior será luminoso. Se tua intenção é reta, teu interior estará penetrado de luz. Se teu coração é puro, verá as coisas como realmente são. Assim, ter o interior luminoso significa ver as coisas em sua verdadeira luz, apreciá-las segundo seu justo valor, de dentro do prisma da eternidade e em função de suas relações com o Verbo de Deus.

Ao se perguntar Santo André de Creta, bispo, em seu sermão de Domingo de Ramos:

“Que luz é esta?”, respondeu logo a seguir com toda clareza: “Só pode ser aquela que ilumina a todo homem que vem ao mundo (cf. Jo 1,9). A luz eterna, luz que não conhece o tempo e revelada no tempo, luz manifestada pela carne e oculta por natureza, luz que envolveu os pastores e se fez para os magos guia do caminho. Luz que desde o princípio estava no mundo, por quem foi feito o mundo e o mundo não a conheceu. Luz que veio ao que era seu, e os seus não a receberam”8.

Aí está esse Deus que “habita uma luz inacessível” (1 Tm 6, 16) na realização de Seu eterno desejo de comunicar Sua própria vida, “a luz dos homens” (Jo 1, 4). E daí se entende o porquê de os homens, quando abraçam o pecado, fecharem os olhos à luz procedente do Verbo, Vida de nossa vida, Luz de nossa inteligência. À salvação, prefere o pecador as desordenadas trevas de suas paixões, de suas más inclinações.

Aquela vida é a luz dos homens, mas os corações insensatos não podem compreendê-la, porque seus pecados não lhes permitem; e para que não suponham que essa luz não existe, pelo fato de que não podem vê-la, prossegue: “A luz resplandeceu nas trevas, e as trevas não a compreenderam”. Por isso, irmãos, assim como o homem cego colocado diante do sol, embora estando em sua presença, se considera como ausente dele, dessa maneira todo insensato, todo iníquo, todo ímpio é cego de coração. Está diante da sabedoria, mas como um cego, seus olhos não a podem enxergar: ela não está longe dele, mas ele é quem está longe dela9.

O versículo 5 do primeiro capítulo do Evangelho de São João

A essas alturas, passamos a distinguir melhor a profundidade dos termos “luz” e “trevas”, empregados por João no versículo 5 – “E a luz resplandeceu nas trevas, mas as trevas não a compreenderam” -, sobretudo se retornarmos às considerações de Orígenes sobre a introdução do quarto evangelho, nas quais estabelece a equivalência entre os termos “luz” e “vida”; “morte” e “trevas”:

E se a vida é o mesmo que a luz dos homens, ninguém que está nas trevas tem vida, e nenhum dos que vivem está nas trevas; e como todo aquele que vive encontra-se na luz, todo aquele que está na luz vive. […] Pelo contrário, aquele que faz coisas próprias à luz, ou cujas ações brilham diante dos demais homens, e que se lembra de Deus, esse não está na morte, de acordo com o que diz o Salmo 6: “no seio da morte não há quem de Vós se lembre”10.

Antes da Encarnação o gênero humano estava nas trevas por causa do Pecado Original

A origem das “trevas” que cercam o homem, afirma Orígenes, está na sua natureza ferida pelo pecado dos primeiros pais: “porque todo o gênero humano – não pela natureza, mas por causa do pecado original – estava nas trevas da ignorância da verdade”. E pela luz de Cristo, que “resplandece nos corações daqueles que O conhecem, após ter nascido da Virgem”, o homem é resgatado da escuridão espiritual. Por isso, Orígenes é levado a exclamar com o Apóstolo: “Antes éramos trevas, mas agora somos luz no Senhor, se somos de algum modo santos e espirituais”. E lembra que se saímos das sombras do erro deve-se à Encarnação do Verbo: “A luz dos homens é Nosso Senhor Jesus Cristo, o qual Se deu a conhecer pela natureza humana a toda criatura racional e intelectual, como também manifestou aos corações dos fiéis os mistérios de sua divindade”11.

Porém, uma vez recebida a luz da verdade e da vida temos de reconhecer nela uma dádiva muito superior à nossa pobre natureza. Orígenes nos coloca nessa perspectiva:

Assim como o ar não brilha por si mesmo, mas se chama trevas, assim nossa natureza, enquanto examinada por si mesma, não é mais do que certa substância tenebrosa, capaz de participar da luz da sabedoria; e assim como não se diz que o ar brilha por si mesmo quando recebe os raios do sol, mas sim que a luz do sol nele resplandece, assim também a parte de nossa natureza racional, enquanto participa da presença do Verbo de Deus, não conhece por si mesma seu Deus nem as coisas compreensíveis, mas pela luz divina que nela se encontra. E desse modo a luz brilha nas trevas porque o Verbo de Deus, vida e luz dos homens, não cessa de resplandecer em nossa natureza (a qual, considerada e estudada em si, não passa de uma obscuridade informe); e como essa mesma luz é incompreensível para toda criatura, as trevas não a compreenderam12.

As trevas nunca vencerão a Luz do Verbo

São Tomás de Aquino, em seu comentário ao prólogo do Evangelho de São João, completa o sentido desse versículo, indicando a ação dos maus como a tentativa frustrada de ofuscar a Luz:

[As trevas] não venceram [a Luz]. Já que por muito que os homens obscurecidos pelos pecados, cegos pela inveja, tenebrosos pela soberba, tenham lutado contra Cristo – censurando, fazendo injúrias e ultrajes, e finalmente matando, como está claro no Evangelho – contudo, não O compreenderam, isto é, não O venceram obscurecendo-O de modo que sua claridade não brilhasse em todo o mundo13.

Pelo anteriormente exposto, pode-se perceber o quanto é acertada a expressão de São João “et tenebræ eam non comprehenderunt” (Jo 1, 5), pois a força dessa luz é a própria onipotência divina que eleva nossa natureza aos cimos da vida da graça e dissipa o mal deste mundo. A iniquidade, o erro e o feio não conseguiram – e nem jamais o conseguirão – vencê-la.

As trevas (conjunto das forças do mal) nunca abarcarão a luz do Verbo pois, “lux in tænebris lucet”.

Ademais, é um erro fundamental querer atribuir o caráter absoluto às trevas como o fizeram na Antiguidade certas religiões, considerando, assim, a existência de dois deuses: luz e treva. E se não são as trevas um ser por essência, como podem elas vencer a luz?

A Luz veio ao mundo

No último dia da Festa dos Tabernáculos, durante uma longa discussão com os fariseus e em seguida ao episódio com a mulher adúltera apanhada em flagrante, Jesus afirma: “Eu sou a luz do mundo, o que me segue não andará nas trevas, mas terá a luz de vida” (Jo 8, 12). Um dos principais ritos dessa festa propiciou ao Divino Mestre essa afirmação, pois os judeus acendiam uma grande lâmpada no interior do Templo e realizavam uma procissão com tochas em chamas.

É ainda dentro desse contexto que encontramos outro pronunciamento de grande importância: “Se vós permanecerdes na minha palavra […] conhecereis a verdade e a verdade vos tornará livres” (Jo 8, 31). Porém, os próprios circunstantes ouviram mas não compreenderam, e alguns até se revoltaram.

Mais adiante, novamente Ele diria: “sou a luz do mundo” (Jo 9, 5) e desta vez conferindo maior facilidade para a crença em Sua palavra, ao curar um cego de nascença, o qual num reencontro adquire a luz da verdade, manifestando Sua fé na divindade de Jesus: “Creio, Senhor. E, prostrando-se, O adorou” (Jo 9, 38). Entretanto, apesar de todas as mais robustas comprovações, continuaram as objeções dos que recalcitravam contra a Lux Vera14.

Ia assim, realizando-se o juízo de Deus:

A condenação está nisto: A luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más. Porque todo aquele que faz o mal, aborrece a luz e não se chega para a luz, a fim de que não sejam reprovadas as suas obras; mas aquele que procede segundo a verdade, chega-se à luz, a fim de que suas obras sejam manifestas como feitas segundo Deus (Jo 3, 19-21).

A união com a Luz impõe a íntegra coerência de fé, razão e vontade

Jesus nos trouxe a luz da verdade ao se encarnar no seio virginal de Maria Santíssima, e nos ofereceu uma revelação fundamental: Deus é luz. E é nessa luz que devemos caminhar conforme nos aconselha São João em sua primeira Epístola:

A nova que ouvimos dele e que vos anunciamos é esta: que Deus é luz e não há nele nenhuma treva. Se dissermos que temos sociedade com ele e andamos nas trevas, mentimos e não praticamos a verdade. Porém, se andamos na luz, como ele também está na luz, temos comunhão recíproca, e o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo o pecado (1 Jo 3, 5-7).

A união com Deus – Luz e Verdade em essência – impõe a necessidade da íntegra coerência de fé, razão e vontade com as exigências de tão alta comunhão.

Com razão se pode pois dizer que João, referindo-se polemicamente à terminologia gnóstica da luz, a desenvolve, porém, na perspectiva do simbolismo vetero-testamentário – a luz é a palavra de Deus – e lhe dá um centro novo no homem histórico Jesus. Ele é a verdadeira luz (Jo 1, 8), isto é, somente nele é dada a verdadeira iluminação da vida humana. Só quem se compreende a partir de Cristo e orientado para Cristo, se compreende retamente e “vive” na verdade. O simbolismo joanino da luz deve ser visto no contexto unitário da interpretação que o quarto Evangelho dá dos grandes símbolos elementares da humanidade – pão, água, vida, luz – aplicando-os a Jesus de Nazaré. Central e típico é o caso da cura do cego de nascença, na qual se reflete claramente todo o drama da história humana; drama a que apenas se alude no prólogo com poucas e breves palavras (1, 9). Em João, a luz é a verdade que em Cristo se tornou novamente acessível ao homem; as trevas são a falsidade, isto é, a realidade do homem que, antes da vinda de Cristo, vive sempre de um ou de outro modo em oposição à verdade. A imagem da luz é assim radicalmente privada de seu significado natural e ao mesmo tempo levada à sua mais alta expressão15.

Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP

quinta-feira, 7 de julho de 2016

Etapas da história de Israel – Período romano (63 AC-até o séc. 4º DC)
Por Nilo Luza


A última etapa da história de Israel, do Antigo ou Primeiro Testamento, é marcada pela presença dos romanos. De 167 a 63 AC, Israel teve um período de certa autonomia política com os Macabeus. Nesse período tiveram destaque principalmente Jônatas e João Hircano, que conseguiram estender o domínio israelita sobre o território das tribos antigas. Mas o Império Romano, aos poucos, vai chegando e tomando conta.

Em 63 AC, Pompeu (63-48 AC) invade e toma Jerusalém. Inicia-se assim a dominação romana, que se estenderá além do “período bíblico”, o qual termina nos inícios do 2º século da era cristã, quando a Bíblia praticamente fica concluída.

Nesse período, temos diversos reis que foram se sucedendo no comando do império. Depois de Pompeu, toma posse Júlio César (48-44 AC) que nomeou procuradores para cuidar da Palestina. A seguir toma posse Antônio (41-30 AC) que nomeou Herodes governador da Galileia e da Pereia. Por fim, o próprio Herodes (37-4 AC) foi nomeado pelo senado romano rei da Judeia e fica até depois o nascimento de Jesus, que se deu por volta do ano 5 AC.

O rei Herodes estendeu seu poder além da Judeia. Seu governo foi extremamente repressor, era o braço forte do imperador Augusto de Roma. Logo que assumiu o comando, elimina os opositores e ele próprio nomeia os sumos sacerdotes. Instrumento político dos romanos, encarna o espírito helenista.


Governou de forma bastante ambígua: dizia-se seguidor das tradições religiosas judaicas, ao mesmo tempo que defendia os interesses de Roma.

Além de político perverso e opressor, Herodes é visto também como grande construtor. Em Jerusalém, construiu seu palácio, a torre Antônia e reconstruiu o templo. Além disso, na Palestina, construiu a fortaleza de Massada, o próprio mausoléu onde foi enterrado e a cidade de Cesareia marítima em homenagem a César, além de ginásios e outras cidades. Todos esses gastos acabaram caindo sobre o povo, com a cobrança de pesados impostos. Foi considerado maior chefe da nação judaica, depois de Davi e Salomão.

Durante os anos de dominação romana antes da era cristã, o Antigo Testamento ficou concluído. Nesse período é escrito o livro da Sabedoria, último do Primeiro Testamento e nada mais será incluído. O livro da Sabedoria foi escrito provavelmente pelo ano 30 AC, em Alexandria. Por causa da influência grega, apresenta a visão dualista de alma e corpo e faz uma reflexão sobre a sabedoria. Tem como destinatários principais: os governantes, para que ajam com justiça; os sábios gregos, para que conheçam a sabedoria de Israel; os jovens judeus, para que se mantenham na fé e na tradição do seu povo.
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Sabedoria na resistência – Período romano

A terra de Israel muito cedo foi alvo de disputa entre impérios do Oriente e do Ocidente, por ser corredor de passagem entre os dois mundos. Pompeu, general do exército romano, concretizou as ambições do então imperador Júlio César, integrando Jerusalém e a Judéia ao seu domínio.
Exército: a força bruta do império
Quando Judas Macabeu aliou-se aos romanos, por volta de 160 a .E.C., Roma ainda não era um Império. Estava crescendo em importância e tornando-se uma nação sempre mais poderosa. Aos poucos os romanos foram conquistando territórios, que transformavam em províncias. Sua grande força conquistadora era o exército, numericamente grande, estrategicamente bem organizado em legiões, fortemente disciplinado e ideologicamente coeso.Desde de 148 a . E.C. os romanos vinham estendendo seu domínio sobre as regiões em torno do Mar Mediterrâneo e pela Europa.Com Pompeu, por volta de 67 a .E.C.,o interesse de Roma voltou-se para o Oriente.Com a conquista da Síria,transformada em província romana, o império romano construiu a ponte que lhe faltava para alargar o império até a antiga Mesopotâmia, nos limites do rio Tigre. Essa política expansão continuou com Júlio César e seus sucessores.
Tributos: a forma clássica da submissão
A forma clássica de submissão dos povos conquistados era o pagamento de tributos. Roma crescia e se enriquecia com os tributos das nações dominadas.Os produtos do campo e da indústria manufatureira eram comercializados sob o controle romano, e os dividendos desse comércio eram destinados ao pagamento dos tributos. Estes s´eram aceitos se fossem em moeda romana. Assim o Império garantia a supremacia de sua moeda, amparada pelo sistema de cobrança de impostos. Para não haver fugas nem contestações ao sistema, Roma contava com seu exército.Pela força das armas, ela impunha aos povos conquistados sua política econômica.
Administração do Estado:o poder do mais forte
Para administrar todo aquele vasto território, os romanos criaram uma estrutura estatal complexa e eficiente.O poder era fortemente hierárquio,numa estrutura piramidal rígida. Todo o poder emanava diretamente da divindade do imperador, após a morte do antecessor.Isso quando a luta pelo poder não resultava no assassinato do imperador por um de seus generais. O Senado, com sede em Roma, era o órgão consultivo e deliberativo do imperador, e era composto pelos conselheiros da corte,que formavam uma determinada jurisdição e competência, com seu respectivo grau de poder e prestígio: governadores de províncias,etnarcas, tetrarcas, cônsules, procônsules, legados, procuradores, prefeitos.
A pirâmide Social 
A estrutura piramidal do poder se reproduzia na estrutura social e econômica. No topo da pirâmide social romana estavam os nobres: a corte imperial, os altos funcionários do Estado como os senadores e os generais do exército. Esta era também a classe rica do Império. No meio estavam os homens livres, os que eram considerados cidadãos romanos. Essa cidadania era adquirida,primeiramente, por nascimento de pais romanos;em segundo lugar,por compra desse direito e, em terceiro lugar, por concessão do imperador a algumas cidades .Essa era a classe média do Império.
Na base da pirâmide estavam os escravos, que praticamente eram todos que não detinham o direito de cidadãos romanos. Aí se incluíam os povos conquistados, inclusive Israel.Eles não participavam da política e não tinham acesso à propriedade e à liberdade de locomoção. Sua função na sociedade era produzir.Constituía a classe pobre e excluída do império. Alguns escravos conseguiram a liberdade e passavam a fazer parte da classe dos libertos, mas não eram considerados cidadãos romanos.
A religião: os “divinos” imperadores 
O império romano era politeísta.De modo geral deixava que cada um adorasse e cultuasse os deuses que quisesse. Mas, ideologicamente, obrigava os povos conquistados a cultuar também os deuses romanos. A partir de Otaviano, que intitulou Augusto, os imperadores romanos também passaram a considerar-se “divinos”, isto é, semideuses, merecendo por isso um culto a sua imagem. No caso de Israel, devido ao zelo extremo pela religião monoteísta e a absoluta proibição de imagens com objeto de culto, os romanos foram mais brandos na exigência do culto ao imperador.Impuseram, porém, o oferecimento de um sacrifício diário ao imperador no Templo de Jerusalém, em substituição ao culto deles.Os judeus estavam dispensados do serviço militar obrigatório nas legiões e tinham seu próprio tribunal, o Sinédrio, para julgar casos envolvendo os judeus. Mas o Sinédrio tinha um poder limitado: o julgamento de alguns delitos era reservado aos romanos, especialmente aqueles que implicavam pena de morte.
Percorrendo o período romano(1ª etapa:fim do Primeiro Testamento)
De 63 a 37 a . E.C. —-Pompeu (66-48 a .E.C.)

No verão ou outono de 63, o general e cônsul romano, Pompeu, conquistou a cidade de Jerusalém. Assim ele pôs fim à disputa pelo poder na Judéia, que vinha desde os tempos de João Hircano (134-104 a. E.C.). Jerusalém tinha se tornado um ponto estratégico de suma importância no Oriente Próximo para quem desejasse controlar não só a região, mas também as vias de comunicação entre o oriente , Europa e África.Os romanos sabiam que os judeus eram muitos Zelosos, defensores das tradições culturais e religiosas de sua terra. Sabiam também que os judeus estavam espalhados por todas as regiões já conquistadas, onde mantinham forte o ideal de unidade em torno da Lei. Foi exatamente por causa da defesa de sus religião que os Macabeus haviam pedido ajuda a Roma, contra a tirania dos Selêucidas, extremamente intolerantes quanto à religião judaica.Essa característica dos judeus tornava-os uma nação peculiar comparada às outras conquistadas. Uma oposição aberta em relação aos judeus poderia pôr a perder os planos romanos para a controlar a região. Por isso, Pompeu não transformou imediatamente a Judéia numa província romana,como tinha acontecido com outros povos conquistados.O controle romano se deu por meio das nomeações para cargos importantes na Judéia, especialmente o cargo de sumo sacerdote.
O poder na Judéia:a religião subjugada
Quando Pompeu chegou a Jerusalém, encontrou uma situação bastante complicada no que tange ao exercício do poder. Quem mandava na Judéia era Aristóbulo II. Mas seu poder não gozava de legitimidade, pois havia usurpado o trono de seu irmão, Hicarno II. A disputa pelo poder judaico teve início em 67, com a morte da rainha mãe, Alexandra. Hircano II, filho de Alexandra, tinha sido nomeado por ela sumo sacerdote. Quando a rainha morreu, Hircano II a sucedeu como rei, deixando o cargo de sumo sacerdote. Mas seu irmão Aristóbulo o destituiu e se intitulou rei e sumo sacerdote ao mesmo tempo.
No ano de 65 a . E.C., Hircano II SE ALIOU A Aretas III, rei da Nabatéia, e cercou Jerusalém, tentando retomar o poder de seu irmão usurpador. Mas a chegada de Pompeu na região fez com que se retirassem. Isso deu a Aristóbulo a chance de vence-los depois, confirmando seu poder no trono da Judéia.Neste contexto Pompeu precisou agir politicamente. Para garantir a política de alinhamento aos interesses de Roma, o general romano nomeou Hircano II,como sumo sacerdote e governador. A medida visava garantir que a religião judaica, pela qual os judeus mais zelavam, pudesse estar “sob controle”, além de satisfazer ao povo que não via com bons olhos o governo de Aristóbulo II, considerando ilegítimo.
Júlio César(48-44 a . E.C.)
No ano 48 a .E.C., Pompeu foi derrotado por César em Farsália, na Grécia, e logo depois morto no Egito. César manteve a política de não submeter diretamente os judeus ao domínio romano, mas de controlar os cargos públicos da Judéia, nomeando aqueles de quem pudesse obter apoio, confirmando Hircano II no cargo de etnarca,isto é ,governador da Judéia. E Antípater como seu administrador. Em consideração à ajuda que César recebeu dos judeus, cedeu-lhes o controle da cidade de Jafa e das cidades da planície de Esdrelon . A partir daí, Antípater tornou-se um verdadeiro procurador romano na Judéia. Nomeu seu filho mais velho, Fasael, como governador de Jerusalém, e o filho menor, Herodes, com estratego da Galiléia, isto é, uma espécie de general superior. Isso significava que Herodes tinha uma milícia romana sob seu comando. Sua primeira atuação foi sufocar a revolta de Ezequias, entre os anos 47-41 a .E.C. Em 44 César foi assassinado em Roma. Antônio assumiu o trono em seu lugar.
Antônio (41-30 a . E.C.)
Antônio era membro triunvirato. Assim que assumiu o governo do Oriente, nomeu Herodes governador da Galiléia e da Peréia, aumentando mais o poder deste.No ano 40 a .E.C., os partos, vindos da Pérsia, invadiram a Síria e a Judéia e tomaram Jerusalém, dominando a região.Nomearam Antígono, filho de Aristóbulo II, como rei da Judéia e sumo sacerdote, Herodes, então fugiu para Roma. Hircano II foi deposto e mutilado. No fim daquele ano, o Senado romano nomeou Herodes rei da Judéia, mas ele só pôde exercer a realeza depois que venceu Antígono e tomou Jerusalém com a ajuda de Sósio, governador romano da Síria, no ano de 37 a .E.C.
O reinado de Herodes Magno(37-4 a .E.C.) 
Herodes era filho de Antípater, idumeu. Sua mãe era nabatéia. Ele tinha, portanto, uma longínqua descendência por meio de Esaú, irmão de Jacó,chamado também de Edom. Nasceu em Ascalon, na orla marítima do Mediterrâneo, que naqulea época era uma cidade grega. Assimilou, portanto, a cultura grega na sua formação.
Herodes assumiu o trono de Jerusalém em 37 a.E.C e reinou até o ano 4 a.E.C. Casou-se cinco vezes: com Doris, grega, que lhe deu o filho Antípater III; com Mariana I, judia, neta de Hircano II, da qual nasceram Aristóbulo e Alexandre; Com Mariana II, judia, filha do sumo sacerdote Simão, de quem nasceu Filipe I, chamado também de Herodes; com Maltace, samaritana, da qual nasceram Arquelau e Herodes Antipas; e, finalmente, com Cleópatra VIII, egípcia da qual nasceu Filipe II.
No ano 23 a autoridade de Herodes foi estendida à Traconítide, à Bataneia e à Auranítide, e no ano 20 à Panéias. Essas regiões se localizam na parte oriental, a leste e nordeste do Jordão, na antiga Transjordânia, em direção à Síria.
Herodes, o repressor
No ano 31, Otaviano tornou-se cônsul absoluto de Roma, depois de ter derrotado Antônio na batalha naval de Áccio. A partir do ano 27 passou a chamar-se Augusto, assumindo o título de imperador. Durante seu reinado instaurou a política da pax romana, segundo a qual erma eliminados sistematicamente todos os adversários do império. O objetivo da política de Augusto era aniquilar cada foco de rebelião ou perturbação da ordem, para garantir a “paz”, isto é, a perpetuação do sistema. Ele considerou Herodes um “rei aliado”, certamente por causa da sua rígida conduta, que correspondia à política do imperador.
O governo de Herodes foi extremamente repressor, dentro da mais perfeita sintonia com a pax romana de Augusto. Ele era, de certa forma, o “braço de Augusto” na Judéia. No ano 30, Herodes executou Hircano II, que governava a Judéia antes de ser deposto e mutilado pelos partos (40 a.E.C). Em 29 executou sua própria mulher, Mariana I. Nos anos 9 – 8 a.E.C ele quis capturar um grupo de rebeldes da Traconítide que tinha sido acolhido pelo ministro Sileu, da Nabatéia. Entrou no território nabateu, causando a revolta de Sileu, que se queixou a Augusto e do qual recebeu apiio. Isso causou grandes estragos no relacionamento de Herodes com Roma, pelo menos por algum tempo. Talvez para reverter isso e mostrar que estava alinhado à política de Augusto, no ano 7 a.E.C. Herodes mandou estrangular Aristóbulo e Alexandre, os dois filhos que teve com Mariana I. essa crueldade só é explicada pela ganância do poder, combina com o perfil de Herodes traçado no evangelho de Mateus.
Herodes, o construtor
Herodes empreendeu muitas construções na terra de Israel. Talvez por isso recebeu o título de Magno, o Grande, apesar de ter sido muito cruel. Suas obras mais importantes foram: no ano 30 construiu a Fortaleza Antônia e no ano 23, o Palácio da cidade alta, onde residia, ambos em Jerusalém; construiu também, na capital, três torres de vigia, nomeadas por ele como Mariana, Fasael e Ípica; no ano 23 ainda, fundou a cidade de Cesaréia, na orla marítima, em homenagem a César, e aí construiu um porto artificial, pois a costa mediterrânea de Israel não tem portos naturais; recosntruiu outrossim as cidades de Antipátrida, na planície de Saron, Faséleia, no vale do Jordão e a antiga cidade de Samaria, a qual rebatizou de Sebaste, que é o nome correspondente grego do nome Augusto, também em homenagem ao imperador, que se tinha declarado “divino”.
As edificações de Herodes continuaram. Ele mandou construir um complexo residencial de três palácios em Jericó, junto a uma torrente no caminho para Jerusalém. Um, palácio em estilo grego, era para a administração e os serviços. Outro, em estilo asmoneu, possuía salas de recepção, piscinas, pórticos e jardins. O terceiro era de estilo romano e servia morardia, com jardins, pátios, salas de recepção, termas, sacadas e uma grande piscina de 90 por 42 metros para jogos náuticos. Construiu ainda a pequena cidade-fortaleza de Massada – no alto de um monte de difícil acesso, próximo ao Mar Morto -, e Herodin, palácio-fortaleza situado prósimo de Belém, entre Jerusalém e o Mar Morto.
A mais importante obra de Herodes foi a reconstrução do Templo de Jerusalém, que havia sido saqueado por Crasso no ano 54, e, nessa ocasião, provavelmente, acabou sendo em parte destruído. Herodes iniciou essa reconstrução por volta dos anos 20-19 a.E.C. De acordo com Jô 2,20, as obras teriam levado 46 anos, o que situa sua conclusão somente em 26/27 E.C. Dá para imaginar o custo de tantas construções? Tudo isso exigiado povo pagamento de impostos bem elevados!
A data do nascimento de Jesus
Existem diversos indícioos históricos de que, nos últimos anos do reinado de Herodes Magno, houve um censo determinado pelo Império. O texto de Lc 2.1-2 faz referência a um recenseamento, quando “Quirino era governador da Síria”. Os dados históricos a respeito de Quirino o situam entre os anos 12 e 6 a.E.C., embora Flavio Josefo (Historiador Judeu) o situe no ano 6 E.C. outra hipótese é a de ter havido mais de um recenseamento, em épocas bem próxima, talvez um complementando o outro.
Conforme a informação de Mt 2,16.19, Herodes morreu pelo menos dois anos após o nascimento de Jesus. Como sua morte deu-se no ano 4 a.E.C., deve-se concluir que o nascimento de Jesus só pode ter se dado, de fato, antes desta data, ou seja, entre os naos 7 e 6 antes da nossa era.
A reação popular à política herodiana
Os 33 anos de reinado de Herodes foram marcados pela total submissão aos ditames de Roma, pelo seguimento da política da pax romana e pela bajulação aos imperadores. Antes de Herodes os romanos estavam distantes, “por debaixo dos panos”, mas não indiferentes nem ausentes quanto à política da região de Israel. Herodes Magno foi o primeiro a ser considerado oficialmente “rei” da Judéia pelos romanos. No seu governo a presença e a intromissão romana nos assuntos de Israel tornaram-se muito mais evidentes. Os judeus não aceitaram pacificamente essa intromissão estrangeira, negando-se a prestar juramento a Augusto.
Segundo Flávio Josefo, foi Saturnino, governador da Síria entre 9 e 6 a.E.C, quem fez o recenseamento da Judéia, durante o qual nasceu Jesus. Essa informação confirma a data do nascimento de Jesus até o ano 6 a.E.C.
A contagem atual dos anos da “era cristã” parte do nascimento de Jesus, segundo os cálculos feitos pelo monge Dionísio, o Pequeno, no século VI. Ele se baseou em Lucas oara atribuir a Jesus 30 anos exatos quando começou seu ministério público. O “ano décimo quinto do império de Tibério”, segundo o calendário romano, corresponde ao não 782/3. Assim, descontando-se os 30 anos que Jesus já teria vivido, temos o ano 752/3, o qual foi considerado por Dioniso como o ano um, início da era cristã. Mas no ano 15 de Tibério, que corresponde ao ano 752/3, Jesus já devia estar com pelo menos 33 anos, talvez 37. Dionísio errou por pouco, de três a sete anos, como o demonstra a rebelião dos fariseus no ano 7/6 a.E.C.
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– O IMPÉRIO ROMANO E OS JUDEUS
Ao tomar Jerusalém, em 63 a.C, o general romano Pompeu depara-se com a nação judaica bastante enfra­quecida, em conseqüência de renhidas disputas internas. Depois de um começo brilhante e glorioso, a família macabéia passa a fazer escusas manobras para manter-se no po­der. Conhecida, também, como dinastia hasmoneana, aca­bou por cair nas garras de uma ambiciosa e pertinaz família iduméia, de onde viria um monstro voraz e impiedoso -Herodes, o Grande.
Pompeu estava no Oriente Médio para conter o ex-pancionismo de Mitrídates, rei do Ponto. Sonhando cons­truir ura grande império, esse monarca intentava conquis­tar a Ásia Menor e a Palestina e, assim, minar a posição romana nessa tão estratégica área. Preocupada, Roma en­via à região um bravo e nobre general.
Grande estrategista, Pompeu vence o rei Mitrídates, que se refugia na Armênia. Mesmo vencido, o ambicioso soberano reorganiza-se e tenta tomar a Síria. O general ro­mano, entretanto, intervém uma vez mais e o derrota defi­nitivamente.
O governo de Roma, satisfeito com o desempenho de seu brilhante militar, designa-o governador das províncias da Ásia. Foi nessa qualidade, que Pompeu recebeu Aristó-bulo e Alexandre. Disputando ferrenhamente o trono da Judéia, ambos submetem-se à sua arbitragem. O povo, contudo, não deseja ser governado por nenhum dos dois.
Que decisão tomar?
Prático, o general romano desejava colocar sobre os ju­deus um rei títere. Entre os contendores, opta pelo mais manobrável e influenciável. A escolha recai sobre Hircano, cujo caráter era débil. A decisão de Pompeu desagrada, profundamente, a Aristóbulo, que começa a arquitetar planos de vingança e revolta.
Hircano, respaldado por Roma, assume o poder e in­troduz, em Jerusalém, o exército romano. Revoltado, Aris­tóbulo encerra-se no Santo Templo com 12 mil partidários. Pompeu, ao examinar detidamente a questão, decide to­mar o santuário.
A luta é grande. O espetáculo, dantesco. Aristóbulo consegue fugir. Seus homens, contudo, são aniquilados. Sentindo-se senhor da situação, Pompeu penetra no lugar mais sagrado do Templo – o santíssimo. Esperava, quem sabe, deparar-se com segredos etéreos e mistérios celes­tiais. Contempla, no entanto, um singelo altar, cuja glória residia no nome do Santo de Israel. Dessa maneira, deixa a Casa do Senhor.
Depois dessa intervenção, a Judéia torna-se província romana.-Nessa qualidade, fica sujeita aos mais absurdos caprichos dos poderosos senhores de Roma. Durante o pri­meiro triunvirato, Crasso, para mostrar seus méritos mili­tares, declara guerra aos partos. Mas, como financiar tão arrojada campanha? Lembra-se dos lendários tesouros do Templo e o saqueia. Com dez mil talentos de ouro, tenta conseguir seu intento. Embora impetuoso e feroz, não é bem sucedido: perde a guerra, o dinheiro e a vida.
De manobra em manobra, Herodes, o Grande, conse­gue dos romanos o governo e o trono da Judéia. Sua carrei­ra política teve início, quando ele tinha 15 anos. Desde cedo mostrou-se cruel e sanguinário. Não tolerava quais­quer arranhões em sua autoridade. Sedento de poder, prendia, desterrava e matava.
Tão maquiavélico era Herodes que, fácil e rapidamen­te, ganhou a confiança dos mandatários romanos. Nas si­tuações mais adversas, mostrava quão habilidoso político era. Ele não suportava a menor ameaça ao seu trono. Não hesitou, por exemplo, em assassinar seus filhos Aristóbulo e Alexandre. Carcomido de ciúmes, executou também sua belíssima esposa Mariana, descendente dos macabeus.
Em 37 a.C, finalmente, o monstruoso Herodes liqui­dou a brava e heróica dinastia hasmoneana. Enfim, o tro­no da Judéia era todo seu! Um de seus últimos desatinos foi a matança dos inocentes de Belém. Sua real intenção era destruir a vida do infante Jesus. Depois de todas essas sandices, o perverso idumeu desapareceu entre atrozes do­res e com suas entranhas consumidas por vermes. Uma de suas grandes obras foi a ampliação e embelezamento do Templo. Mesmo assim, os judeus não se esqueceram de seus bárbaros e selvagens crimes.
Das personalidades romanas enviadas à Judéia, des­tacaremos, a seguir, apenas duas. Uma, responsável pela morte de Jesus, e a outra, pela destruição de Jerusalém. Referimo-nos a Pôncio Pilatos e ao general Tito.
1 – Pilatos
Pôncio Pilatos assumiu o governo da Judéia no ano 26 d.C. Nomeado por Tibério, sua administração foi tumul­tuada e cheia de agitações. O historiador e filósofo hebreu, Filo, escreve sobre o quinto governador romano da terra de Judá, taxando-o de rígido, teimosamente severo, de dispo­sição pronta a despeitar os outros; era excessivamente iracundo. O mesmo cronista fala, ainda, dos subornos, atos de orguho e violência, ultrajes, brutalidades e assassinatos cometidos por essa autoridade romana.
Pertencente à ordem eqüestre ou à classe média supe­rior romana, Pilatos dispunha de amplos poderes na Judéia. Tendo à sua disposição formidável aparato militar, tinha autoridade para prender, executar e suspender qual­quer pena capital. Sob a sua custódia, ficavam as vestes sacerdotais. Ele só as entregava ao sumo sacerdote, por ocasião dos festivais judaicos.
Inescrupuloso, provocou a ira dos judeus, certa oca­sião, ao trazer a Jerusalém, pendões com a figura do impe­rador romano. Os israelitas, não suportando tamanha ido­latria, começaram a gritar e a protestar, até que as ima­gens foram retiradas. Mostrando-se lerdo para aprender os costumes judaicos, de outra feita, confiscou dinheiro do templo para construir um aqueduto em Jerusalém. Os pro­testos gerados por esse arbítrio foram também violentos, contribuindo para desequilibrar sua administração.
Sua perversidade, contudo, escondia um caráter fraco e uma vontade débil. Ele estava mais interessado em agra­dar ao imperador, do que a lutar por princípios justos e ideais verdadeiros. Haja vista, por exemplo, quão ambíguo foi seu comportamento quando do julgamento de Jesus Cristo. Procurando adular seu soberano e os líderes judai­cos, consentiu, judicialmente, a morte do Salvador da hu­manidade.
Depois de muitas desventuras, Pilatos foi forçado a suicidar-se pelo imperador Gaio. No inferno, segundo uma lenda, está a lavar suas mãos continuamente, mas, não consegue livrar-se das manchas carmesins do sangue do Cordeiro de Deus.
2 – Tito
Ao rejeitar o seu Cristo, os judeus disseram: “Caia sobre nós o seu sangue, e sobre nossos filhos!” (Mt 27.25.) Essas duras e irresponsáveis palavras foram pronunciadas ante Pôncio Pilatos que pretendia indultar alguém por ocasião da Páscoa. Ao pedir que escolhessem entre Jesus e
Barrabás. eles não titubearam. Com os seus corações cheios de ódio, optaram por um salteador e entregaram o bondoso -Jesus à morte.
Com essa insana escolha, os filhos de Abraão começa­vam a escrever um dos mais tristes e funestos capítulos de sua atribulada história. O sangue do Nazareno começaria a cair-lhes sobre a cabeça a partir do ano 70 d.C, com a destruição de Jerusalém e do Templo pelos romanos.
Nessa época, o Cristianismo já havia alcançado os mais longínquos rincões do Império Romano. A religião do Nazareno, inclusive, já havia conquistado considerável terreno na luxuriante e orgulhosa Roma.
Na Judéia, enquanto isso, os israelitas foram obriga­dos a suportar toda a sorte de arbitrariedade das autorida­des romanas. O governador Gesius Florus, por exemplo, assumiu o poder com o espírito eivado de preconceitos con­tra os judeus. O carrasco, como era conhecido, quebrantou as leis mosaicas e desrespeitou, acintosa e publicamente, as mais caras tradições do povo de Israel. Para esse procu­rador, os hebreus não passavam de um bando de fanáticos e desequilibrados.
Em Cesaréia, os gregos, vendo a forma como Florus tratava os judeus, começou a persegui-los com redobrado fervor. A vida da comunidade judaica, nessa cidade, trans­formou-se num inferno. Os israelitas nem mesmo podiam adorar a Deus. Em frente às sinagogas, os helenos promo­viam grandes tumultos, impedindo a realização dos ofícios religiosos.
Uma delegação judaica foi enviada a Gesius Florus para pedir-lhe proteção. O governador romano, no entan­to, ordenou a matança dos representantes judeus.
A notícia da aflição dos israelitas de Cesaréia chegou a Jerusalém e causou profunda comoção. Os zelotes entra­ram em ação e iniciaram uma guerra de guerrilhas contra as forças romanas. Deteriorou-se a situação quando Florus exigiu 17 talentos de ouro que se encontravam no Templo.
A partir daí, alastrou-se o conflito romano-judaico.
O governador da Síria, Céstius Gallus, viajou a Jeru­salém para investigar as causas do levante. Sua presença, no entanto, provocou profundo mal-estar, por incorporar a 80 imagem da opressora Roma. Embora estivesse acolitado por poderoso exército, foi ele obrigado a deixar a cidade. Após sofrer vergonhosa e fragorosa derrota, refugiou-se no território sírio.
Os nacionalistas judeus, entusiasmados com essa vi­tória, preparam-se para novos combates. Inicialmente, apenas os pobres compunham os quadros da resistência. Com os primeiros sucessos, porém, os ricos e nobres passa­ram, com o mesmo ímpeto, a atacar os exércitos romanos. O historiador Flávio Josefo, de origem aristocrática, en­contrava-se entre os combatentes judeus.
Nero foi notificado do levante na Judéia, quando se encontrava na Grécia assistindo aos jogos olímpicos e par­ticipando de alegres festas. Para sufocar a rebelião, enviou à Palestina um de seus mais competentes militares. Estra­tegista de primeira grandeza, o general Vespasiano começa a tomar cidade após cidade dos revoltosos. Quando prepa­rava-se para sitiar Jerusalém, foi chamado às pressas à ca­pital do império. Com a morte do desvairado Nero, foi ele aclamado imperador.
A tarefa de sitiar e tomar a Cidade Santa é entregue, então, ao filho de Vespasiano. Com a mesma determinação do pai, o general Tito lança-se sobre Jerusalém, no ano 70 d.C.
O historiador israelita, Simon Dubnow, narra-nos, com vivas cores, como a mais amada das cidades judaicas foi destruída:
“…a fome se alastrava cada vez mais por Jerusalém; os cereais armazenados já se haviam esgotado há muito tempo; os ricos entregavam suas propriedades e os pobres seus últimos pertences em troca de um pedaço de pão. His­tórias terríveis se gravaram na memória do povo a respeito dos acontecimentos daqueles dias. Martha, a abastada viúva do sumo sacerdote Jesus Ben Gamaliel, em cuja pas­sagem, quando se dirigia ao Templo, se estendiam, outrora, preciosos tapetes, se via agora na contingência de ali­viar sua fome com restos recolhidos nas ruas; outra mulher rica, levada pela fome, degolou o próprio filhinho para co­mê-lo. As ruas estavam repletas de cadáveres e de gente desfalecida, e não havia tempo para enterrar os mortos. Os cadáveres espalhados por toda a parte empestavam o ar. A fome, a epidemia e as setas do inimigo provocaram a ruína nas fileiras dos defensores; mas os que ainda resistiam não perdiam as esperanças. Este heroísmo e pertinácia do povo assombrou até os heróicos romanos. Finalmente, eles diri­giram suas máquinas de assédio contra as fortificações do Templo. Quando os romanos tomaram a Torre Antônia, descobriram repentinamente espessas muralhas que cir­cundavam o Templo, e, como fosse impossível derrubá-las, Tito ordenou que se incendiassem os portões exteriores, dos quais partia uma série de colunas que chegavam até o próprio Templo; os guerreiros judeus lutaram como leões, e cada passo para o Templo custava ao inimigo rios de san­gue.
“De repente, um soldado romano agarrou um lenho ar­dente e lançou-o ao interior do Templo, através de uma ja­nela. As portas de madeira das salas do Templo se infla­maram e logo todo o Templo se achava envolto em cha­mas. Tito, que se dirigiu imediatamente para o lugar atin­gido, proferiu aos soldados, em altas vozes, a ordem de su­focar o incêndio e salvar o esplêndido edifício. Mas devido ao estrépido ensurdecedor das construções que caíam, aos gritos desesperados dos sitiados e ao ruído das armas, tor­nou-se impossível perceber a voz do chefe. Os enfurecidos romanos lançaram-se sobre as câmaras não afetadas ainda pelo fogo, com o fim de roubar os tesouros ali acumulados, mas somente puderam penetrar pisando os cadáveres dos guerreiros judeus, que lhes opunham uma grande resistên­cia no meio das labaredas. Então, os vencedores deram li­vre expansão à sua cólera. Velhos, mulheres e crianças fo­ram assassinados sem compaixão; muitos hebreus encon­traram a morte nas chamas, às quais se precipitaram va­lentemente. O Templo, orgulho da Judéia, transformou-se em um monte de escombros, sendo destruído na mesma data (nove e dez de Aw) em que fora destroçado antiga­mente o primeiro templo por Nabucodonosor. Dos objetos contidos no Templo, só permaneceram intatos o cande­labro, a mesa sagrada e um rolo da Tora. Tito ordenou le­vá-los e conservá-los como lembrança de seu triunfo. “Com a ruína de Jerusalém, desmembrou-se por completo o Estado Judeu. Esta luta tão singular na história, luta entre um Estado minúsculo e o Império mais poderoso do mundo, absorveu uma infinidade de vítimas e cerca de um milhão de judeus pereceu na guerra com os romanos (66-70) e uns cem mil foram feitos prisioneiros. Desses ca­tivos, alguns foram mortos, outros enviados a trabalhos forçados ou vendidos como escravos nos mercados da Ásia e África; mas os mais fortes e belos ficaram para lutar com feras nos circos romanos e acompanhar Tito em sua solene entrada em Roma. Sempre que Tito celebrava o aniversá­rio de seu pai e de seu irmão, organizava jogos militares e lutas de gladiadores, nos quais se arrojavam muitos judeus às feras do circo, para que os destroçassem, divertindo o público.”
Para comemorar a sua vitória, o imperador Vespasiano ordenou a cunhagem de moedas especiais que traziam uma mulher acorrentada e a seguinte expressão: “Judéia cativa, Judéia vencida.”
Poucos anos após a queda de Jerusalém, judeus e ro­manos voltariam a enfrentar-se. O renhido combate foi travado em Massada. Mostrando mais uma vez sua audá­cia e coragem, a resistência judaica preferiu autodestruir-se, a entregar-se ao opressor romano. A partir de então, toda a Judéia passou a pertencer aos imperadores roma­nos, que passaram a doar seus lotes ou vendê-los.
V – O IMPÉRIO ROMANO E OS CRISTÃOS
O judaísmo era tolerado no Império Romano, por não possuir caráter proselitista. A religião judaica limitava-se aos judeus. Raros eram os prosélitos. Os rabinos não ti­nham espírito apostólico. Ás autoridades de Roma, por isso mesmo, permitiam o funcionamento de sinagogas e es­colas hebraicas. A situação, contudo, foi substancialmente alterada com a guerra na Judéia em 70 d.C.
Em conseqüência de seu espírito missionário, o Cris­tianismo, desde o seu nascedouro, foi duramente persegui­do. As autoridades romanas viam-no como uma perigosíssima ameaça. E, de fato, a religião do Nazareno visava e visa a conquista espiritual do mundo. Antes de sua ascen­são, ordenara Jesus aos seus apóstolos: “Foi-me dada toda a autoridade no céu e na terra. Portanto ide, fazei discípu­los de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a observar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos” (Mt 28.18-20).
E, nos momentos que antecederam sua subida aos céus, o Ressuscitado fez esta recomendação aos seus após­tolos: “Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia e Samaria, e até os confins da ter­ra” (At 1.8). A partir desse momento, desse glorioso e me­morável momento, tem início uma luta mortal entre o Rei­no de Deus (a Igreja) e o principado das trevas (o Império Romano).
Os imperadores movem cruentas e impiedosas perse­guições contra os cristãos. Nada, porém, consegue barrar o magistral progresso da Igreja. O número de servos de Deus aumenta dia após dia. Esse avanço, contudo, custa um alto preço: o sangue dos santos.
Hegesipo, escritor do Século II, narra-nos como o per­verso e anormal Nero tratou os cristãos, acusados, por ele, de terem incendiado Roma: “Alguns foram vestidos com peles de animais ferozes, e perseguidos pelos cães até se­rem mortos, outros foram crucificados; outros envolvidos em panos alcatroados, e depois incendiados ao pôr-do-sol, para que pudessem servir de luzes para iluminar a cidade durante a noite. Nero cedia os seus próprios jardins para essas execuções e apresentava, ao mesmo tempo, alguns jogos de circo, presenciando toda a cena vestido de carrei­ro, indo umas vezes a pé no meio da multidão, outras ven­do o espetáculo do seu carro”.
Sob o governo de Nero, que mandou incendiar a capi­tal de seu império e, covardemente, culpou os cristãos, pe­receram, ainda, os apóstolos Pedro e Paulo. Os seguidores de Cristo foram perseguidos pelo Império Romano por qua­se 300 anos. A situação só se amainou com a ascensão de Constantino, o (Irande. Não falaremos mais detalhada­mente acerca dos sofrimentos desses heróicos homens, mu­lheres e crianças, por absoluta falta de espaço. O sangue desses santos, entretanto, continua a clamar no tempo e clamará na eternidade.
VI – O FIM DO IMPÉRIO ROMANO
Depois de séculos de sanguinolência e devassidão, permissividade e térrea tirania, chega ao fim o “inexpugná­vel” Império Romano. A imoralidade e a inebriante luxa­ria tiraram do povo romano sua fibra e coragem. Enquanto isso, os inimigos de Roma fortaleciam-se e preparavam-se para deitá-la por terra.
Em 476 d.C, os bárbaros invadiram Roma. Desapare­ceu, assim, o mais extenso e poderoso reino humano! No entanto, segundo profetizou Daniel, esse império ressurgi­rá com grande poder. Sua duração, porém, será curta. 0 Rei dos reis e Senhor dos senhores encarregar-se-á de des­truí-lo.
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HISTÓRIA: Segundo Templo

  • O Retorno a Sião

  • ​Após um decreto do rei Persa Ciro, conquistador do império babilónico (538 AC), cerca de cinquenta mil judeus partiram pela primeira vez em direcção à Terra de Israel.​​​​​​​​
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    The Menorah on the Arch of Titus, RomeThe Menorah on the Arch of Titus, Rome
    Menorah no Arco de Tito, em Roma

    A repatriação dos judeus sob a liderança de Esdras

    Períodos Persa e Helenístico (538 a 142 AEC)

    Após um decreto do rei persa Ciro, conquistador do império babilónico (538 AEC), cerca de cinquenta mil judeus partiram pela primeira vez em direção à Terra de Israel, liderados por Zorobabel, descendente da Casa de David. Menos de um século depois, o segundo retorno foi liderado por Esdras, o Escriba. Nos próximos quatro séculos, os judeus tiveram diferentes graus de autonomia sob governos Persas (538 a 333 AEC) e Helenísticos (ptolemaico e selêucida) (332 a 142 AEC).

    A repatriação dos judeus sob a inspirada liderança de Esdras, a construção do Segundo Templo no local do Primeiro Templo, a fortificação das muralhas de Jerusalém, e o estabelecimento da Knesset Hagedolah (Grande Assembleia), o supremo órgão religioso e judicial do povo judeu, marcaram o início do período do Segundo Templo. Dentro dos limites do Império Persa, Judá era uma nação liderada pelo sumo sacerdote e conselho de ansiãos em Jerusalém.
    Como parte do mundo antigo conquistado por Alexandre, o Grande, da Grécia (332 AEC), a Terra continuou a ser uma teocracia judaica, sob o domínio dos selêucidas, baseado nos Sírios. Quando a prática do judaísmo foi proibida e seu Templo foi profanado, durante a imposição da cultura e costumes gregos a toda a população, os judeus rebeliaram-se (166 AEC).

    A dinastia dos Asmoneus durou 80 anos
    Dinastia dos Asmoneus (142 a 63 AEC)

    Primeiramente liderados por Matatias, da família sacerdotal dos Asmoneus, e depois por seu filho Judá, os Macabeu, os judeus entraram em Jerusalém e purificaram o Templo (164 AEC). Os dois eventos são comemorados todos anso pelo festival de Hannukah.

    Após outras vitórias dos Asmoneus (147 AEC), os selêucidas restauraram a autonomia da Judeia, como a Terra de Israel era então chamada, e, com o colapso do reino selêucida (129 AEC), a independência judaica foi alcançada. Durante a dinastia dos Asmoneus, que durou aproximadamente 80 anos, o reino recuperou fronteiras quase iguais às do reino de Salomão, alcançou a consolidação política sob o governo judeu e a vida judaica floresceu.

    O governo dos Asmoneus terminou, e a Terra tornou-se numa província do Império Romano

    Domínio Romano (63 AEC a 313 EC)

    Quando os romanos substituíram os selêucidas, passando a ser a grande potência da região, eles concederam ao rei Asmoneu Hircano II uma autoridade limitada, subordinado ao governador romano de Damasco. Os judeus reagiram com hostilidade ao novo regime, e nos anos seguintes houve diversas insurreições. Matatias Antígono fez uma última tentativa de restaurar a antiga glória da dinastia dos Asmoneus; sua derrota e morte finalizou o governo dos Asmoneus (40 AEC), e a Terra tornou-se uma província do Império Romano.

    Em 37 AEC, Herodes, genro de Hircano II, foi nomeado rei da Judéia pelos romanos. Com autonomia quase ilimitada sobre assuntos internos do país, ele tornou-se um dos mais poderosos monarcas no Império Romano oriental. Grande admirador da cultura greco-romana, Herodes lançou um enorme programa de construções, que incluía as cidades de Cesareia e Sebaste e as fortalezas em Heródio e Massada. Ele também reformou o Templo, tornando-o uma das mais magníficas construções da época. Mas apesar de suas realizações, Herodes não conseguiu ganhar a confiança e o apoio de seus súditos judeus.
    Dez anos após a morte de Herodes (4 AEC), a Judeia passou a ser governada diretamente pelos romanos. A opressão romana da vida judaica causou uma insatisfação crescente, resultando em episódios violentos esporádicos que se transformaram em uma grande revolta em 66 EC. Forças superiores romanas, lideradas por Tito, acabaram vitoriosas, arrasando Jerusalém totalmente (70 EC) e derrotando até a última fortaleza judia em Massada (73 EC).
    A total destruição de Jerusalém e do Segundo Templo foi catastrófica para o povo judeu. De acordo com o historiador contemporâneo Flávio Josefo, centenas de milhares de judeus faleceram durante a tomada de Jerusalém e no restante do país, e outros milhares foram vendidos como escravos.
    Houve um último e breve período de soberania judaica após a revolta de Shimon Bar Kochba (132 EC), durante o qual Jerusalém e a Judeia foram reconquistadas. No entanto, dado o enorme poder dos romanos, o resultado era inevitável. Três anos depois, de acordo com os costumes romanos, Jerusalém foi "arada com uma junta de bois"; a Judeia foi renomeada Palestina e Jerusalém, Aelia Capitolina.
    Embora o templo tivesse sido destruído e Jerusalém totalmente queimada, os judeus e o judaísmo sobreviveram ao encontro com Roma. O órgão legislativo e judiciário supremo, o Sinédrio (sucessor da Knesset Hagedolah) foi reunido em Yavneh (70 EC) e, mais tarde, em Tiberíades. Sem a estrutura unificadora do Estado e do Templo, a pequena comunidade judaica restante se recuperou gradualmente, ocasionalmente fortalecida pela volta de grupos exilados. A vida institucional e comunal foi renovada, os sacerdotes foram substituídos por rabinos e a sinagoga tornou-se o foco das comunidades judaicas, como exemplificado pelos restos de sinagogas em Capernaum, Korazin, Bar’am, Gamla, etc. O Halachá (a lei religiosa judaica) serviu como elo comum entre os judeus e foi passado de geração a geração.

    Massada: Cerca de mil homens, mulheres e crianças judias, que tinham sobrevivido à destruição de Jerusalém, ocuparam e fortificaram o palácio de Massada, do rei Herodes, no topo de uma montanha na região do Mar Morto, onde resistiram durante três anos a diversas tentativas romanas de desalojá-los. Quando os romanos finalmente escalaram Massada e derrubaram suas paredes, eles descobriram que os defensores e suas famílias haviam escolhido morrer por suas próprias mãos, em vez de serem escravizados.

    Halachá é o órgão de direito que orienta a vida judaica em todo o mundo desde os tempos pós-bíblicos. Ele descreve as obrigações religiosas dos judeus, tanto nas relações interpessoais quanto nos rituais, e engloba praticamente todos os aspectos do comportamento humano - nascimento e casamento, alegria e tristeza, agricultura e comércio, ética e teologia. Baseada na Bíblia, a autoridade do halachá é fundada no Talmude, um corpo de leis e conhecimentos populares judaicos (concluído em cerca de 400), que incorpora a Misná, primeira compilação escrita da Lei Oral (codificada em cerca de 210), e o Gemara, uma continuação da Misná.
    Para fornecer orientações práticas para o Halachá, resumos concisos e sistemáticos foram escritos por estudiosos de religião a partir dos séculos I e II. Dentre as codificações de maior credibilidade está o Shulchan Aruch, escrito por Joseph Caro em Safed (Tzfat), no século XVI.


    História da Menorah
    A Menorah de Ouro (um candelabro de sete braços), era um importante objeto de rituais no templo do rei Salomão, na antiga Jerusalém. Através dos tempos, tem simbolizado a herança e tradição judaicas em inúmeros locais e formas.
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    PERÍODO INTERBÍBLICO-INTRODUÇÃO
    O escopo da disciplina Novo Testamento I abrangerá o estudo panorâmico dos Evangelhos e do livro de Atos, com enfoque nos aspectos histórico, literário e teológico. A contextualização histórica é de fundamental importância no estudo das Sagradas Escrituras. Tal preocupação se apresenta com freqüência nas páginas bíblicas. Tomemos como exemplos os escritos proféticos, onde se nota constantemente a citação dos nomes dos reis, o ano do seu reinado, o local onde o profeta se encontrava e outros dados contextuais (Jr.1.1-3). Tais informações situam a vida do profeta e sua mensagem em um cenário real e historicamente conhecido. Da mesma forma, é mister que tenhamos o conhecimento do contexto histórico que emoldura os fatos narrados nos Evangelhos e em Atos. A localização histórica das origens cristãs evidenciam seu caráter factual, o que não é possível demonstrar em relação a diversas religiões, cujas raízes estão amparadas em lendas, sonhos e visões.
    Iniciaremos nossa contextualização pelo chamado "Período Interbíblico", afim de traçarmos a ligação histórica entre o Velho e o Novo Testamento. Tal exame também possibilitará melhor compreensão dos fatores que construíram o cenário político, social e religioso encontrado por Cristo na Palestina. Ao lermos o Novo Testamento, deparamos com muitos problemas cujos motivos se encontram no período interbíblico.
    O PERÍODO INTERBÍBLICO
    Esse período teve a duração de aproximadamente 450 anos. Normalmente se faz referência a esse tempo como uma época em que Deus esteve em silêncio para com o seu povo. Nenhum profeta de Deus se manifestou ou, pelo menos, nenhum deixou escritos que tenham sido considerados canônicos.
    Vamos examinar a situação da Palestina durante esse período, principalmente no que se refere aos impérios, governos, as relações de Israel com os povos vizinhos e as implicações religiosas e sociais destes elementos.
    O IMPÉRIO PERSA - FINAL DO V.T.
    O Velho Testamento termina com as palavras de Malaquias, o qual profetizou entre 450 e 425 a.C.. Nesse tempo, a Palestina estava sob o domínio do Império Persa, o qual se estendeu até o ano 331 a.C.. Embora o rei Ciro tenha autorizado os judeus a retornarem do exílio, o domínio Persa continuava sobre eles. De volta à Palestina, o povo judeu passou a ter um governo local exercido pelos sumo sacerdotes, embora não houvesse independência política. Eram comuns as disputas pelo poder.
    O IMPÉRIO GREGO - 335 a 323 a.C.
    Paralelamente ao Império Persa, crescia o poder de um rei macedônico, Felipe, o qual empreendeu diversas conquistas na Ásia menor e ilhas do mar Egeu, anexando a Grécia ao seu domínio. Desejando expandir seu território, entrou em confronto com a Pérsia, o que lhe custou a vida. Foi sucedido por seu filho, Alexandre Magno, que também ficou conhecido como Alexandre, o Grande, o qual havia estudado com Aristóteles. A mitologia grega, com seus deuses e heróis parece ter inspirado o novo conquistador. Alexandre tinha 20 anos quando começou a governar. Seu ímpeto imperialista lhe levou a conquistar a Síria, a Palestina (332 a.C.) e o Egito. Notemos então que o território israelense passou do domínio persa para o domínio grego.
    No Egito, Alexandre construiu uma cidade em sua própria homenagem, dando-lhe o nome de Alexandria, a qual se encontrava em local estratégico para o comércio entre o Mediterrâneo, a Índia e o extremo Oriente. Essa cidade se tornou também importante centro cultural, substituindo assim as cidades gregas. Entre suas construções destacaram-se o farol e a biblioteca.
    Em 331, Alexandre se dedicou a libertar algumas cidades gregas do domínio da Pérsia. Seu sucesso militar foi tão grande que considerou-se capaz de enfrentar a própria capital do império. E assim conquistou a Pérsia. Contudo, nessa batalha, que ficou conhecida como Arbela ou Gaugamela, as tropas gregas tiveram de enfrentar um exército de elefantes, os quais foram usados pelo rei da Pérsia. Alexandre venceu o combate, mas os elefantes foram motivo de grande desgaste para seus soldados. Alexandre se denominou então "Rei da Ásia" e passou a exigir para si o culto dos seus subordinados, de conformidade com as práticas babilônicas.
    Em 327 a.C., em suas batalhas de conquista rumo ao Oriente, Alexandre encontra outro exército de elefantes, o que fez com que seus soldados se amotinassem, recusando-se a prosseguir. Terminaram-se assim as conquistas de Alexandre Magno. Em 323 a.C., foi acometido pela malária, a qual lhe encontrou com o organismo debilitado pela bebida. Não resistiu à doença e morreu naquele mesmo ano. Não deixou filhos, embora sua esposa, Roxane, estivesse grávida. Quanto aos judeus, Alexandre os tratou bem e teve muitos deles em seu exército. Após a sua morte, o Império Grego foi divido entre os seus generais, dentre os quais nos interessam Ptolomeu, a quem coube o governo do Egito, e Seleuco, que passou a governar a Síria.
    O GOVERNO DOS PTOLOMEUS
    A Palestina ficou sob o domínio do Egito. Os descendentes de Ptolomeu foram chamados Ptolomeus. Eis os nomes que se sucederam enquanto a Palestina esteve sob o seu governo (323 a 204 a.C.):
    Ptolomeu I (Sóter) - 323 a 285 a.C.
    Ptolomeu II (Filadelfo) - 285 a 246 a.C. – Durante o seu governo foi elaborada, em Alexandria, a Septuaginta, tradução do Antigo Testamento para o grego. Filadelfo foi amável com os judeus.
    Ptolomeu III (Evergetes) – 246 a 221 a.C.
    Ptolomeu IV (Filópater) - 221 a 203 a.C. - Ao voltar de uma batalha contra a Síria, Filópater visitou Jerusalém e tentou entrar no Santo dos Santos. Contudo, foi acometido de um pavor repentino que o fez desistir do seu propósito. Foi um grande perseguidor dos judeus.
    Ptolomeu Epifânio – 203 a 181 a.C. – Tinha 5 anos de idade quando seu pai, Filópater morreu. Aproveitando a situação, Antíoco - o Grande, rei da Síria, toma o poder sobre a Palestina no ano 204.
    O GOVERNO DOS SELÊUCIDAS
    Os reis da Síria, descendentes do general Seleuco, foram chamados Selêucidas. De 204 a 166 a.C., a Palestina esteve sob o domínio da Síria. Eis a relação dos selêucidas do período:
    Antíoco III - O Grande – 223 a 187 a.C.
    Seleuco IV (Filópater) – 187 a 175 a.C.
    Antíoco IV (Epifânio) - 175 a 163 a.C. - Em Israel, o governo local era exercido por Onias, o sumo sacerdote. Contudo, Epifânio comercializou o cargo sacerdotal, vendendo-o a Jasão por 360 talentos. Epifânio se esforçou para impor a cultura e a religião grega em Israel, atraindo sobre si a inimizade dos judeus. Tendo ido ao Egito, divulgou-se o boato da morte de Epifânio, motivo pelo qual os judeus realizaram uma grande festa. Ao tomar conhecimento do fato, o rei da Síria promoveu um grande massacre, matando 40 mil judeus.
    Em 168 a.C., Antíoco Epifânio sacrifica uma porca sobre o altar em Jerusalém e entra no Santo dos Santos. Ordena que o templo dos judeus seja dedicado a Zeus, o principal deus da mitologia grega, ao mesmo tempo em que proíbe os sacrifícios judaicos, os cultos, a circuncisão e a observância da lei mosaica.
    Segue-se então um período em que não houve sumo sacerdote em atividade em Jerusalém (159 a 152 a.C.). Realiza-se então um processo de helenização radical na Palestina.
    Vendo todos os seus valores nacionais sendo destruídos e profanados, os judeus reagiram contra Epifânio.
    O GOVERNO DOS MACABEUS - 167 a 37 a.C.
    Surge no cenário judaico uma importante família da tribo de Levi: os Macabeus. Em 167, o macabeu Matatias se recusa a oferecer sacrifício a Zeus. Outro homem se ofereceu para sacrificar, mas foi morto por Matatias, o qual organiza um grupo de judeus para oferecer resistência contra os selêucidas. Tal movimento ficou conhecido como a Revolta dos Macabeus. A Palestina continuou sob o domínio da Síria. Contudo, a Judéia voltou a possuir um governo local, exercido pelos Macabeus. Ainda não se tratava de independência, mas já havia alguma autonomia. A seguir, apresentamos os nomes dos governantes macabeus e alguns de seus atos em destaque.
    Matatias (167-166 a.C.)
    Judas (filho de Matatias) (166-160 a.C.) - Purifica o templo, conquista liberdade religiosa, restabelece o culto.
    Jônatas (filho de Matatias) (160-142 a.C.) – Reinicia a atividade de sumo sacerdote.
    Simão (filho de Matatias) (142-135 a.C.) - Reforça o exército e consegue isenção de impostos. Nesse momento a Síria se encontrava fraca, e a Judéia se torna independente. A independência durou entre 142 e 63 a.C.. Simão foi sumo sacerdote e rei da Judéia. Pediu apoio de Roma contra a Síria.
    João Hircano (filho de Simão) (135-104 a.C.) – Tinha tendência imperialista. Conquistou a Iduméia e Samaria. Destruiu o templo samaritano e sofreu oposição dos "hassidim", seita dos "santos".
    Aristóbulo I – (104-103 a.C.) – prendeu a mãe e matou o irmão.
    Alexandre Janeu (103-76 a.C.) - conquistou costas da Palestina – O território de Israel chegou a ter extensão semelhante à que tinha nos dias do rei Davi. Janeu sofreu a oposição dos fariseus.
    Alexandra Salomé (esposa de Alexandre) (76-67 a.C.) – foi uma governante pacífica.
    Aristóbulo II - (67-63 a.C.) briga pelo poder com seu irmão, Hircano II.
    Em 63 a.C., Aristóbulo provoca Roma. Pompeu invade Jerusalém, deporta Aristóbulo e coloca Hircano II no poder.
    Hircano II (63-40 a.C.)
    Em Roma, o governo é exercido por Pompeu, Crasso e Júlio César, formando o primeiro Triunvirato. O três brigam entre si pelo poder. Júlio César vence e torna-se Imperador Romano. Em seguida, nomeia Antípatro, idumeu, como procurador sob as ordens de Hircano. Faselo e Herodes, filhos de Antípatro, são nomeados governadores da Judéia e Galiléia.
    Um ano depois, Antípatro morre envenenado. Passados 3 anos, o Imperador Júlio César morre assassinado. Institui-se um novo triunvirato, formado por Otávio, sobrinho de César, Marco Antônio e Lépido. Marco Antônio e Herodes eram amigos.
    Herodes casa-se então com Mariana, neta de Hircano, vinculando-se assim à família dos macabeus.
    Na tentativa de tomar o poder, Antígono, filho de Aristóbulo II, corta as orelhas de Hircano II, impossibilitando-o de continuar a exercer o sumo sacerdócio.
    Antígono (40-37 a.C.) - Uma de suas ações foi perseguir Herodes, o qual dirigiu-se a Roma, denunciou a desordem e foi nomeado rei da Judéia (37 d.C.). Antígono foi morto pelos romanos.
    Termina assim, a saga dos macabeus, cujo princípio foi brilhante nas lutas contra a Síria. Entretanto, foram muitas as disputas pelo poder dentro da própria família. Perderam então a grande oportunidade que os judeus tiveram de se tornarem uma nação livre e forte. Acabaram caindo sob o jugo de Roma.
    O IMPÉRIO ROMANO
    Sendo nomeado por Roma como rei da Judéia, Herodes passou a governar um grande território. Contudo, sua insegurança e medo de perder o poder o levaram a matar Aristóbulo, irmão de Mariana, por afogamento. Depois, matou a própria esposa e estrangulou os filhos.
    A violência de Herodes provocou a revolta dos judeus. Para apaziguá-los, o rei iniciou uma série de obras públicas, entre as quais a construção (reforma) do templo, que passou a ser conhecido como Templo de Herodes.
    O domínio direto do Império Romano sobre a Palestina iniciou-se no ano 37 a.C., estendendo-se por todo o período do Novo Testamento.
    Quadro histórico social do Novo Testamento
    Política 37 a.C. a 70 d.C.
    Esquema parcial da hierarquia no Império Romano
    O esquema acima apresenta alguns elementos da hierarquia do Império. Nosso objetivo é visualizar principalmente os modelos administrativos estabelecidos sobre os povos conquistados.
    No tempo do nascimento de Cristo, o Imperador era Augusto, o qual instituiu o culto a si mesmo por parte dos seus súditos.
    Em algumas regiões havia a figura do rei. Naquele mesmo período o rei da Palestina era Herodes. Esta região teve sua divisão política alterada diversas vezes, sendo até governada por mais de um rei em determinados momentos. Além do rei, havia em algumas épocas e lugares a figura do procurador, ou governador. Quando Jesus nasceu, o procurador se chamava Copônio. Na seqüência aparecem os publicanos, os quais não possuíam poder administrativo mas tinham a função de coletar impostos. Eram necessariamente nativos da província. Seu conhecimento da terra, do povo, dos costumes e da língua tornava-os mais eficientes na coletoria do que poderia ter sido um cidadão romano que fosse enviado para esse fim. Os publicanos eram considerados por seus compatriotas como traidores, já que cobravam impostos dos seus irmãos para entregar ao dominador inimigo. A palavra publicano se tornou sinônimo de pecador.
    Sob esse domínio se encontrava a província. Assim era chamada qualquer região conquistada pelos romanos fora da Itália. As províncias que se encontravam dentro desse modelo eram administradas mais diretamente pelo Imperador. Tratava-se de regiões ainda não pacificadas, recém conquistadas, cuja população ainda não se acomodara sob o jugo de Roma. Nessas terras havia a presença constante das tropas romanas, as quais se dividiam principalmente em legiões (com 6000 homens), coortes (com 1000 homens) e centúrias (com 100 homens).
    Na província da Judéia havia uma instituição local chamada Sinédrio, o qual era formado por 71 membros e presidido pelo sumo sacerdote. O Sinédrio era o supremo tribunal local e tinha poderes para julgar questões civis e religiosas, uma vez que as duas coisas eram tratadas pela mesma lei. Tais autoridades tinham até mesmo a prerrogativa de aplicar a pena de morte contra crimes cometidos na comunidade local. A polícia recebia ordens do Sinédrio.
    Essa estrutura pode ser claramente observada nas páginas dos evangelhos, principalmente nos relatos que tratam da prisão, julgamento e crucificação de Cristo, o qual foi preso pela polícia do Sinédrio, e levado diante desse tribunal local. Os integrantes do Sinédrio, embora tivessem poder para matá-lo, parecem ter vacilado diante de tamanha responsabilidade. Levaram-no diante do Procurador da Judéia, Pilatos, o qual encaminhou-o para a presença de Herodes, o rei da Galiléia. Ninguém queria assumir a responsabilidade pela crucificação. Contudo, Cristo é devolvido a Pilatos, que considerou o lavar da mãos como ato suficiente para isentá-lo da culpa de matar o Filho de Deus. (Mt.26.44,57,59; 27.2; Lc.23.7) Vemos aí a hierarquia governamental em evidência. O imperador também foi lembrado naquelas circunstâncias, mas apenas para um menção rápida em João 19.12 para pressionar o Procurador.
    Havia ainda outro tipo de província. Eram aquelas conquistadas há mais tempo e já pacificadas. Os habitantes desses lugares tinham cidadania romana. Era o caso do apóstolo Paulo, que nasceu em Tarso, e tinha o direito de ser considerado cidadão romano. Tal prerrogativa proporcionava diversos direitos, principalmente tratamento respeitoso e especial nas questões jurídicas. Um cidadão romano não podia, por exemplo, ser açoitado. Paulo foi submetido a açoites, mas seus algozes ficaram atemorizados quando souberam que tinham espancado um cidadão romano (Atos 16.37-38). Com base no mesmo direito, Paulo apelou para César quando quis se defender das acusações que lhe eram feitas (Atos 25.10-12).
     
    CULTURA E INFRA-ESTRUTURA
    Nos dias de Cristo, embora o império fosse romano, a cultura predominante continuava sendo grega. O extinto império de Alexandre Magno deixou um grande legado: o helenismo, que significa a influência cultural grega entre os povos conquistados. Helenismo é derivado de Helas, outro nome da Grécia. Helenização é o processo de propagação dessa cultura. Devido a essa difusão, a língua grega se tornou de uso comum. Daí vem a expressão "grego koiné" (= comum). As cidades gregas eram bem estruturadas. Contavam com teatros, banhos públicos, ginásios, foros, amplas praças, hipódromos e academias. Assim, por onde quer que o helenismo se expandisse iam surgindo cidades desse tipo. Algumas cidades antigas se adaptavam e chegavam até a mudar de nome, adotando nomes gregos.
    É por causa desse contexto que o Novo Testamento foi escrito em grego, com exceção do evangelho de Mateus.
    Além dos elementos helênicos, o cenário contava com estradas calçadas construídas pelos romanos. Elas facilitavam a circulação das milícias entre as províncias e a capital. Por essas vias transitavam também mensageiros, comerciantes e viajantes em geral. Outro destaque da engenharia romana eram os aquedutos: canais para levar água das montanhas para as cidades.
     
    ATIVIDADES ECONÔMICAS
    Com toda a importância das cidades, as construções eram constantes. Além das casas, estradas e aquedutos, as muralhas também faziam parte dos projetos. Em Jerusalém havia uma grande obra em andamento nos dias de Jesus: o templo de Herodes, cuja construção ocorreu do ano 20 a.C. até 64 d.C..
    Outras atividades importantes eram: transporte, agricultura, comércio, pesca, metalurgia, cerâmica, perfumaria, couro, tecidos e armas. Em Israel, a pecuária, além de atividade econômica, possuía status religioso por causa dos sacrifícios.
     
    POPULAÇÃO E RELIGIÃO
    A DIÁSPORA
    Nos dias do Novo Testamento, a população judaica encontrava-se dispersa por vários lugares. Além da própria Palestina, havia inúmeros judeus em Roma, Egito, Ásia Menor, etc. (Atos 2.9-11; Tiago 1.1; I Pedro 1.1). Tal dispersão, que recebe o nome de Diáspora, tem razões diversas, começando pelos exílios para a Assíria e Babilônia, e se completando por interesses comerciais dos judeus, e até mesmo em função das dificuldades que se verificavam em sua terra natal. Esse quadro se apresenta como cumprimento claro dos avisos divinos acerca da dispersão que viria como conseqüência do pecado de Israel (Dt.28.64).
    Assim, o judaísmo acabou se dividindo em função da distribuição geográfica. Havia o judaísmo de Jerusalém, mais ligado à ortodoxia, e o judaísmo da Diáspora, ou seja, praticado pelos judeus residentes fora da Palestina. Estes últimos encontravam-se distantes de suas origens. Se até na Palestina, os costumes gregos se impunham, muito mais isso ocorria na vida dos judeus em outras regiões. Estavam profundamente helenizados, embora não tivessem abandonado o judaísmo. Isto fez com que eles se preocupassem com o futuro de suas tradições e sua religião. Tomaram então providências para que o judaísmo não sucumbisse diante do helenismo. Uma delas foi a tradução do Velho Testamento do hebraico para o grego, chamada Septuaginta. Já que este idioma estava se tornando universal, havia o risco de que, no futuro, as escrituras não pudessem mais ser lidas, devido à possível extinção do hebraico. Outras obras literárias foram produzidas, incluindo narrativas históricas, propaganda e apologia judaica, tudo escrito em grego e com influências gregas. Destacaram-se nessa época os escritores: Fílon de Alexandria e Flávio Josefo. Tais escritos não foram aceitos pela comunidade de Jerusalém. Até a tradução bíblica foi rejeitada, uma vez que, para eles, toda escritura sagrada devia ser produzida necessariamente em hebraico. Essa obra no idioma grego foi vista pelos ortodoxos como uma descaracterização do judaísmo.
    Para muitos judeus conservadores, o judaísmo era propriedade nacional e não devia ser propagado entre outros povos. Já os judeus da Diáspora se dedicaram a conquistar gentios para a religião judaica. Tal fenômeno recebe o nome de proselitismo. Os novos convertidos eram chamados prosélitos (Mateus 23.15 Atos 2.9-11; 6.5; 13.43). Essa prática difusora da religião também foi adotada por judeus de Jerusalém, mas em escala bem menor.
    Os judeus da diáspora cresciam em número e em poder econômico. Isso se tornou incômodo para muitos cidadãos dos lugares onde residiam. A guarda do sábado e a recusa em participar do culto ao Imperador tornaram-se também elementos que atraíram a perseguição. Tendo, muitos deles, fugido da opressão na Palestina, encontraram problemas semelhantes em outras terras.
    AS SINAGOGAS, OS RABIS E OS ESCRITOS RELIGIOSOS
    O surgimento das sinagogas é normalmente atribuído ao período do exílio babilônico, quando os judeus deixaram de ter um templo para adorar e sacrificar. O fato indiscutível é que nos dias do Novo Testamento, tais locais de oração, ensino e administração civil eram muito valorizados. Em qualquer localidade onde houvesse 10 judeus, podia ser aberta uma sinagoga. Em cidades grandes poderia haver várias, como era o caso de Jerusalém. A liderança da sinagora era exercida pelo rabi (mestre), o qual era eleito pelos membros daquela comunidade. Essa autonomia de eleição do rabi favoreceu o surgimento de muitos mestres com idéias religiosas distintas. Todos estudavam a lei e elaboravam seus ensinamentos com interpretações e comentários acerca da Torá.
    Assim surgiram as midrashs e as mishnas. Midrash era o comentário da lei. A primeira surgiu no ano 4 a.C.. As mishnas eram os ensinamentos rabínicos. A primeira surgiu em 5 a.C.. Tudo isso compunha a tradição, que passou a ser mais utilizada do que a própria lei. A interpretação da lei era tão desenvolvida que chegava ao extremo de contradizer o código original (Mt.15.1-6). Assim, os escribas e fariseus, doutores da lei, ocupavam o lugar de Moisés (Mt.23.2). Devido a essa posição dos rabis (mestres), Jesus orientou seus discípulos a não utilizarem esse mesmo título (Mt.23.8).
    JUDAÍSMO DIVIDIDO
    Nos dias de Cristo, a religião judaica encontrava-se dividida em seitas: fariseus, saduceus, essênios, e outras. Cada facção se considerava o remanescente fiel a Deus e via os demais como relaxados. Entre os fatores que contribuíram para essa divisão, podemos citar:
    - Diáspora – A dispersão geográfica dificultou a manutenção de uma religiosidade padronizada.
    - Sinagogas – Significaram a descentralização da orientação religiosa. Muitos rabis representaram muitas linhas de pensamento e prática divergentes.
    - Linhagem - As misturas étnicas ocorridas no norte de Israel contribuíram para a discriminação religiosa contra os samaritanos.
    - Interpretação – Diferentes interpretações da lei conduziam a diferentes crenças.
    - Tradição – Esta era o resultado de muitos elementos: interpretação, comentário da lei, influências estrangeiras (gregas, romanas e babilônicas).
    - Política – Alguns judeus apoiavam Herodes e os romanos. Outros eram radicalmente contra tais dominadores.
    - Helenismo – Os judeus se dividiam também quanto ao apoio ou combate à cultura grega que se expandia em todo o mundo. Tais costumes eram vistos como os que hoje chamamos de "mundanismo". Muitos judeus se deixavam levar, admirados com o pensamento grego e o sucesso de sua cultura.
    DINASTIA HERODIANA (parcial)
    As setas indicam filiação. O posicionamento dos quadros inferiores demonstra a sucessão no governo da Palestina.
    Apresentamos apenas parcialmente a dinastia herodiana porque nos limitamos aos nomes mais próximos aos fatos do Novo Testamento. Nosso maior interesse é apresentar a sucessão política na Palestina, principalmente na Judéia. Herodes Magno, também conhecido com Herodes, o Grande, governava a Judéia quando Jesus nasceu. Herodes teve 10 mulheres e 15 filhos, ou mais. Citamos 7 deles: Antípatro II, Aristóbulo I, Alexandre, Filipe I, Filipe II, Arquelau e Antipas II. Herodes matou seus filhos Alexandre, Aristóbulo I e Antípatro II. Deserdou Filipe I, que era casado com Herodias, a qual veio a adulterar com Antipas II (Mc.6.17). Após a morte de Herodes Magno, seu reino foi dividido entre três de seus filhos: Arquelau recebeu a Judéia, Samaria e Iduméia. Antipas II passou a governar a Galiléia e a Peréia. Filipe II recebeu os territórios do nordeste: Ituréia, Tracomites, Gaulanites, Auranites e Batanéia.
    Arquelau foi deposto pelos Romanos no ano 6 d.C.. A Judéia passou então a ser governada por procuradores romanos. Um desses procuradores foi Pôncio Pilatos (de 26 a 36 d.C.). Antipas II governou a Galiléia durante todo o ministério de Cristo. Foi ele quem mandou degolar João Batista. À sua presença Jesus foi encaminhado por Pilatos, já que este era procurador sobre a Judéia e foi-lhe dito que Cristo era galileu, sendo portanto da jurisdição de Antipas.
    Agripa I, filho de Aristóbulo e, portanto, neto de Herodes Magno, foi o sucessor de Filipe II. Aos poucos foi herdando também os territórios dos outros tios. Recebeu de volta dos romanos a administração da Judéia e Samaria, tornando-se então rei de quase toda a Palestina. Foi ele quem mandou matar o apóstolo Tiago e morreu comido por vermes (At.12). Seu filho, Agripa II, foi seu sucessor. Seu território foi então ampliado por determinação do Imperador Cláudio e ainda mais por Nero. Foi perante Agripa II que Paulo se apresentou (At.25.23). Com a destruição de Jerusalém no ano 70, Agripa II mudou-se para Roma e lá esteve até o ano de sua morte (100 d.C.). Os membros da dinastia herodiana são muitas vezes mencionados no Novo Testamento. Todos eles possuíam o título de Herodes. Por esta razão, muitas vezes pode-se imaginar que as diversas passagens se referem à mesma pessoa, o que não é verdade. Pela observação dos quadros anteriores, pode-se identificar cada "Herodes" nas passagens bíblicas em que são citados.
     
    IMPERADORES ROMANOS NO PERÍODO DO NOVO TESTAMENTO
    César Augusto Otaviano - ano 27 a.C. a 14 d.C. - Nascimento de Jesus - Início do culto ao Imperador. (Lc.2.1)
    Tibério Júlio César Augusto - 14 a 27 - Ministério e Morte de Jesus. (Lc.3.1).
    Gaio Júlio César Germânico Calígula - 37 a 41 - Quis sua estátua no templo em Jerusalém. Morreu antes que sua ordem fosse cumprida.
    Tibério Cláudio César Augusto Germânico - 41 a 54 - Expulsou os judeus de Roma. (At.18.2).
    Nero Cláudio César Augusto Germânico - 54 a 68 - Começa perseguição de Roma contra os cristãos. Paulo e Pedro morrem (At. 25.10; 28.19).
    Sérvio Galba César Augusto 68 - Cerco a Jerusalém.
    Marcos Oto César Augusto - 69 – mantém o cerco a Jerusalém.
    Aulus Vitélio Germânico Augusto - 69 - mantém o cerco a Jerusalém.
    César Vespasiano Augusto - 69 a 79 – Tinha sido general de Nero. Coloca seu filho Tito como general. No ano 70, determina a destruição de Jerusalém.
    Tito César Vespasiano Augusto - 79-81.
    César Domiciano Augusto Germânico - 81 a 96 - Exigia ser chamado Senhor e Deus. Grande perseguição. O apóstolo João ainda vivia durante o governo de Domiciano.

    SEBEMGE - Seminário Batista do Estado de Minas Gerais
    Parte 1 - Período Interbíblico e Evangelho de Mateus


    Anísio Renato de Andrade - Bacharel em Teologia

    Email: anisiora@mg.trt.gov.br    -   Home page: http://www.anisiora.cjb.net